sexta-feira, 21 de março de 2008

Intérpretes da moda


Minha relação com a moda sempre passou pelo visual, embora adore estudar história e estar a par de tudo que acontece. Mas, toda vez que abro uma revista, confesso: a primeira coisa que faço é ir direto para os editoriais. Por conta disso, quando decidi me especializar fiz pós em criação de imagem e styling. Foi bom, embora muitas vezes frustante, já que achava que chegaria à faculdade e teria aulas basicamente em um estúdio fotográfico, com a imaginação rolando solta - em um ano e meio, fizemos apenas um editorial. Mas as aulas teóricas, claro, valeram. História, Estética, papos totalmente livres com professoras queridas e muito inteligentes, como Rosane Preciosa e Cris Mesquita; trabalhos baseados em Bispo do Rosário, poemas, filmes...

Lembrei da faculdade hoje, lendo Stylist - the interpreters of fashion e visualizando os conselhos de Cris: jamais se "inspire" em outros editoriais - fato, infelizmente, corriqueiro por aqui. A moda deve ser multidisciplinar. Ou seja, olhar para as artes, cinema, música, viagens, pessoas e para a rua é muito mais autêntico e eficaz do que se basear naquilo que estão fazendo por aí. Grace Coddington, uma das minhas stylists preferidas, é prova viva da teoria. Mesmo em desfiles, quando todos estão em busca das tendências, ela fica alheia à movimentação. "Spots and stripes? Parkas? Urban sport? That bores me", diz em entrevista à Sarah Mower no livro. Talvez por isso ela seja capaz de criar incríveis editorais inspirados em Alice no País das Maravilhas, fazer imagens que reproduzem o mundo moderno - todos isolados, falando por Blackberry e protegidos por plásticos esterilizados - ou fotografar a casa da modelo Natalia Vodianova, mostrando seu filho, a bagunça ao redor e um look pronto para o Halloween, tudo agora, ao mesmo tempo. Moda é fantasia.

Outra stylist que admiro, Carine Roitfeld, hoje diretora da Vogue francesa, conta que sempre usou a própria intuição para criar as imagens sexy chic (lembra da Gucci, na época de Tom Ford? Teve o enorme pitaco dela) que fizeram sua fama. "Eu só transformo minha imaginação em fotos. Eu nunca fui punk. Nunca tingi meu cabelo de azul. Nunca fui uma ninfomaníaca. Sou uma mulher casada, com filhos", ela diz. "Mas não gosto da girl next door." Moda é ousadia. Já Melanie Ward, que ao lado de Corinne Day ajudou a mudar a cara dos anos 1990 propondo uma moda minimalista, que tinha Kate Moss como garota-propaganda, conta que sempre pensou em moda com algo simples, que pudesse ser vestido por qualquer um. "What is modern? I still believe in what the whole grunge thing pioneered: ease, effortless dressing." Moda também é vida real.

O mais bacana do livro é ver que, independentemente da fonte de inspiração, da história de vida e do jeito de encarar a moda, cada uma dessas grandes contadoras de histórias encontrou uma maneira particular de mostrar aquilo em que acredita. Como diz Anna Wintour no prefácio do livro, mesmo que a moda implique o efêmero, um grande stylist é como uma grande piscina de memórias; é lá que imagens extraordinárias estarão prontas para nadar.

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