sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Para pensar

Uma das mesas de discussão do Pense Moda mais comentadas reuniu editores, fotógrafos e stylists para debater a questão "criatividade para vender: como conciliar liberdade de criação com as necessidades comerciais de marcas e veículos." O tema era superválido e bem interessante, mas, de cara, a conversa enveredou para a polêmia "referência" - e daí não saiu mais. Como a mesa era muito grande - 4 editores, 3 stylists e 3 fotógrafos -, o papo não rolou - pareciam mais pequenos monólogos. O mais triste, porém, foi deixar a proposta inicial morrer na praia.

O difícil atualmente, em qualquer mídia, é justamente conseguir reunir o comercial e a criatividade. Sim, porque veículos mais livres das amarras comerciais podem, claro, ter mais liberdade. Mas isso significa, muitas vezes, não se vincular ao business de jeito nenhum - a imagem vale pela imagem e, se a leitora gostar de alguma coisa, corre o sério risco de ficar chupando o dedo, já que as roupas usadas nem sempre estão à venda. Por outro lado, quem se prende muito ao chamado serviço pode deixar para trás o sonho, sem dúvida um dos motores da moda. Ver roupinhas que poderiam estar em qualquer vitrine de shopping não é muito inspirador, não é mesmo? Esse meio-termo, como sempre na vida, é o mais difícil de se encontrar e é o que deveria ter alimentado o debate.

Referências existem em todos os lugares e em todas as formas de expressão. E é muito diferente de cópia, esse sim um mal que atinge muitas vezes as publicações brasileiras. Outro tópico dessa mesma mesa foi a busca de um DNA brasileiro. Uns disseram que não temos ainda uma cara própria, já que somos um país novo e colonizado - bom, toda a América não é? E os Estados Unidos estão, em muitos aspectos, inclusive nos editoriais, a anos luz de nós. Outros acreditam que para fazer moda brasileira basta ser brasileiro - mais uma vez, um pouco reducionista. Sou totalmente contra esses clichês samba-sexo-futebol, mas acredito que cada cultura tem sim certas peculiaridades, apesar de vivermos, como todos sabem, num mundo globalizado. Mais uma vez o que deveria valer é o meio-termo: pegue a Bossa Nova como exemplo. É uma das coisas mais brasileiras, sem negar a forte "referência" do jazz americano. O que falta no fundo, acredito, é cultura. Só estudando muito, lendo muito e vendo muitas "referências" de mestres é possível encontrar um estilo para chamar de seu. E talvez aí criar algo novo - em que seja possível visualizar algumas inspirações, mas que nem de longe lembre uma cópia mal feita e mal acabada.

8 comentários:

Anônimo disse...

menina, li em vários blogs (dos presentes na mesa) cometários sobre esse evento, mas só depois de ler o seu pude entender como realmente tudo aconteceu... adorei seu blog!

fefe resende disse...

renata, acho o seu segundo parágrafo genial. e provavelmente a questão tá aí mesmo: quem enxergar o universo coerente em volta, souber dosar vida real e sonho e ainda vender todas as revistas que precisa vender, ganha um doce. seu texto me acrescentou super, achei lúcido, pé no chão e bem objetivo.

Renata Ferrari disse...

Oi Ju, obrigada, volte sempre! Fê, obrigada tbem! bjs

Anônimo disse...

no seu segundo parágrafo está o pulo do gato, mas quanta preguiça vemos na moda brasileira, que então prefere-se se desculpar: falta, de tempo, não deixam a gente falar, etc,etc

olhares futuros disse...

vim pelo blog das meninas da oficina para ler tudo sobre o evento...
bacana seu pt de vista... concordo
sobre ser superficial ou não, sei lá leio muiiiiiiiitossss links daqui do nosso BR e muitos também de fora e não vejo diferença de sermos mais ou, menos , superficiais como blogueiros brasileiros, acho que o bacana é os blogs, na maioria, desenvolve sua personalidade com primazia , e isto é que importa, cada um constrói seu espaço, como sua digital digital ;))
não?

Renata Ferrari disse...

Oi Santa Mistura, acho que na internet, claro, há espaço para tudo - desde falar só besteira até pensar/debater os mais diversos assuntos. Mas, o que quis dizer aqui é que no jornalismo de moda (nem todos os blogueiros são jornalistas e mesmo os jornalistas nem sempre querem debater isso em blogs) falta um pouco mais de cultura geral, de discernimento e até mesmo de relativização, de distanciamento (isso, aliás, acontece muito no jornalismo especializado). E num evento como o Pense Moda o debate enriquecedor é que deveria prevalecer e não o "achismo"... bjs

olhares futuros disse...

certíssima renata, fiquei pensando na importância dos blogs para quem faz e para quem le blogs; ))
porque fora deles existe custos, metas etc e tal... e ai é bem complexo não? e os jornalistas estão no meio do fogo cruzado como qualquer profissional, de um lado o empregador que tem que faturar... e do outro lado os clientes que querem qualidade... complicado... se eu estivesse no meio desta saia justa também acho que não iria pra um debate tãaaaao aberto à pessoas de tantas outras áreas, e que não entram em discussão como elas fazem para equacionar dificuldades da profissão delas ;)

Marília disse...

Oi, Renata!
Muito pertinente seu ponto de vista. Esse entrave comercial X criativo é mesmo um dilema e o estilo ainda não definido brasileiro também é triste fato. mas estamos caminhando. (acho!)

Bjs